Quando a Cidade se modernizou, logo antes da virada do Século, diversos trabalhadores braçais começaram a chegar de todas as partes do Globo.

Na época, saindo das Docas, separando a rica Kingshill da City, seguindo para leste, havia a Orient Road, uma estrada de terra, que ia dar em alguns vilarejos, que se formaram de assentamentos próximos a fazendas na região.

Esses imigrantes, primeiramente chineses, mas depois japoneses, indianos, árabes e outros se estabeleceram nesses assentamentos, trazendo sua cultura e costumes, atraídos pela proximidade com a City, Kingshill e, posteriormente, a Zona Industrial. As beiras da Orient Road se tornaram enclaves de trabalhadores, que já não trabalhavam mais nas fazendas da região, e sim nas fábricas, escritórios e casas dos bairros mais afortunados.

Já no Séc. XIX havia um serviço de bondes puxados a burro, que percorria a Orient Road, transportando os trabalhadores. Com a vinda de cada vez mais imigrantes, no Sec. XX, os bondes se tornaram elétricos e subterrâneos. mas ainda assim não davam conta do recado, e vários serviços particulares apareceram, levando os habitantes da região em caminhonetes precaríssimas. Posteriormente, os tuneis dos bondes seriam abandonados e substituídos pelos tuneis da Metropolitan Railway, ou MET, como passou a ser chamado. Hoje, além da Linha Azul do MET, diversas linhas de ônibus sobem e descem a renomeada Orient Avenue.

No final do Séc XIX, a região era mal vista e considerada perigosa. A partir dos Anos 20, ela adquire a fama de ponto turístico, que vai e vem, trazendo ondas de prosperidade ao local. Com o crescimento da Cidade, Orient Ave., ao menos a parte dela depois de Kingshill se tornou uma Região Administrativa, com pequenas Vizinhanças que se dividem por critérios mais ou menos étnicos, de acordo com com a onda de imigrantes que a ocupou ao longo do tempo. Apesar de ainda ser uma Zona principalmente residencial, os pequenos bairros se expandiram e oferecem toda a gama de serviços.

Caminho por Orient Avenue, mas não me sinto mais o mesmo. Na verdade, a vizinhança também não é mais a mesma. Tanto ela como eu estamos partidos. Duas versões. Reflexos num espelho lúgubre.

Tudo começou naquela fatídica noite. Eu e Cheryl havíamos ficado noivos. Estávamos felizes, comemorando, quando eles nos pegaram e nos levaram pro porto. Sem dar explicação alguma, nos surraram e, por fim, dispararam na gente.

Ainda lembro da água fria e suja na qual nos atiraram. Cheryl afundando, imóvel, com os olhos abertos, mas vazios. E eu, sem forças, me agarrando a ela, tentando inutilmente nos levar de volta pra superfície. Depois, a escuridão.

Era pra ter acabado ali, mas o Corvo não deixou. Me trouxe de volta. Não sei por que eu e não a Cheryl. Mas sei qual o meu objetivo.

Vingança.
This message was last edited by the player at 20:14, Tue 22 Aug 2023.

- CRÁ, CRÁ, CRÁ - Daniel ouve o crocitar de seu companheiro, passando por cima de sua cabeça e interrompendo seus pensamentos, como se os adivinhasse.

O Familiar pousa no ramo de uma árvore e virando a cabeça em várias posições, mas sem desviar o olhar do destino de Daniel, bem a sua frente: Koizumi Yakumo High School. O prédio marrom não era muito diferente das outras construções dos anos 20/30 que o cercavam. Originalmente fora um conjunto de prédios residenciais, sendo adotado como escola nos anos 50.

Originalmente, as crianças e adolescentes faziam Educação Física no terraço até que alguma boa alma na Administração da Cidade achou melhor derrubar dois dos prédios do conjunto nos anos 70, para construir um pátio e uma quadra de basquete.

Naquela manhã de setembro, as crianças já começavam a chegar e Daniel galgou rápido os degraus. A sua recuperação, e a adaptação a sua nova condição, por sorte coincidira em grande parte com as férias de verão, mas a Administração Escolar contava que agora em setembro, ele retornaria à cátedra.

Em direção as salas dos professores, ele não pode deixar de observar a reação dos estudantes nos corredores. Afinal, ele era o professor que quase se afogara, e as notícias sobre Cheryl com certeza chegara aos alunos, que cochichavam enquanto ele passava. Muitos deles, haviam enviado cartas.

Ao fim do corredor ele vê Martha - Senhorita Smith - a professora de biologia, que acenava para ele da porta da Sala dos Professores.
This message was last edited by the GM at 19:11, Sun 28 Apr.

Daniel tenta ignorar os olhares e cochichos dos estudantes, focando sua atenção em Martha.

Bom dia, senhorita Smith, diz ele, forçando um sorriso que fica no meio do caminho. É bom... estar de volta.

- Não precisamos de tanta formalidade, Martha está bom - Ela diz, enquanto mantém a porta aberta para ele passar.

Com a porta fechada, enquanto ambos pegam seu material de aula, ela diz:

- Fiquei sabendo do... acontecido. Sinto muito. Se precisar de alguém para conversar, estou aqui. - ela estende a mão para o ombro de Daniel, mas se detém - nós somos uma comunidade, uma família.

Daniel sorri de volta, agora com uma pouco mais de ternura.

Obrigado, Martha. Isso significa muito pra mim, diz ele. Nem sei como seria se não tivesse o apoio de vocês.

Enquanto caminham para as suas respectivas salas de aula, um pensamento incomoda Daniel. Todos têm realmente me apoiado, mas... será que alguém daqui da escola está envolvido na nossas.... mortes?

A súbita lembrança de Cheryl conjura sua imagem e aperta o coração de Daniel.

Não. Ninguém aqui seria capaz disso... Não é?

Orient Avenue protege os seus. Até eu que não sou daqui sei disso - responde Martha com um sorriso.

Bom, eu fico por aqui. Boa aula!

Daniel continua seu caminho até a sala de sua primeira aula. Na porta da sala, três garotos de uns quatorze ou quinze anos, envergando as cores dos 88 Dragões, o veem chegando. Um deles cochicha alguma coisa para os demais, e os três entram na sala rindo.
This message was last updated by the GM at 04:05, Fri 01 Sept 2023.

Daniel já estava acostumado com o comportamento abrasivo doa adolescentes e tinha aprendido a contorná-lo -- se não fosse assim, jamais teria conseguido sobreviver à transferência para o ensino médio.

Contudo, sua tragédia havia ferido sua natureza apaziguadora. Ver os jovens rindo desperatar uma ponta de fúria, alimentada pela entidade que agora o habitava, ou na qual a havia se transformado.

Bom dia, pessoal, disse ao entrar na sala e por sua bolsa sobre a mesa. Usou a  rotina para arrefecer a fúria, mas continuou remoendo a cena. Fez a chamada e identificou os três jovens, guardando seus nomes para depois.

Hoje, vamos começar a leitura da obra de Howard Phillips Lovecraft. Calma, calma, pessoal. Eu sei que ele era racista e xenófobo, por isso vamos ler com olhara crítico -- aliás, com vocês devem fazer com tudo. Mas a ideia é conhecer a base desse subgênero do horror, para depois visitar a releitura que autores modernos estão fazendo dos Mythos do Lovecraft, ok?

Vamos começar com A sombra de Innsmouth.

Daniel sempre evitara o submundo de Orient Avenue, mas volta e meia esbarrava com ele por se preocupar com seus alunos.

Será que os 88 Dragões estão por trás do ataque? Mas o que eles teriam contra mim e Cheryl? Não acredito que alguém teria ordenado nossas mortes por causa de uma nota baixa.

Daniel tenta afogar seus pensamentos com a rotina, e o dia passa sem maiores novidades.

Ministrada sua ultima aula do dia, Daniel se junta a turba de alunos no corredor, que se apressam para a porta de saída, fora um grupo que se acotovela próximo a um quadro de avisos. O professor caminha até lá e vê que alguém colocou um cartaz de "desaparecido".

DESAPARECIDO

David Park - 16 anos.


Visto pela última vez no dia 01/09/2023, às 20:00hs usando óculos de grau, camiseta azul, agasalho vermelho e jeans.

Caso o veja ou tenha visto, ligue para 777-7777-77 ou procure a delegacia de polícia mais próxima.

No centro do cartaz havia uma foto do rapaz.

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Edit: OOC: Scene Tags - muvucado.

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This message was last edited by the GM at 18:32, Thu 07 Sept 2023.

Vendo alguns alunos da última turma no quadro, Daniel fala com eles.

O que aconteceu? diz, fazendo um meneio com a cabeça na direção do cartaz.

Os alunos parecem só agora notar a chegada de Daniel.

- O Dave sumiu!

- Ele é da minha turma, não aparece há dois dias!

- Ele é esquisito!

- Eu acho que "vi ele" andando pelos lados de Liberty Street!

- Dizem que ele odiava o pai, deve ter fugido!

- Aposto que é coisa do Rei Escarlate. Ele rapta crianças para as gangues dele!

- Ele deve ter entrado para os 88 Dragões!

Com o rabo do olho, Daniel vê o Diretor vindo na direção do grupo. Se ele quer alguma informação, é melhor obtê-la logo.

Rei Escarlate? Quem é esse cara? diz Daniel.

Não sabe, Professor? - responde um garoto de olhos esbugalhados - Ele é o maior criminoso de toda a cidade. Dizem que ele pode fazer sumir quem ele quiser. Que recebe uma parte de todos os crimes que acontecem na cidade. Que ele não tem medo da polícia, porque ele manda na polícia! E ninguém sabe quem ele é. Pode ser qualquer pessoa!

A molecada em volta ri da estória do menino, inclusive os membros dos 88 Dragões, que também tinham se aproximado.

Não riam! Ele vai saber que vocês riram de mim e pegar vocês! - completa o menino, frustrado.

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21:41, Today: Narrador, on behalf of Daniel Karasu, rolled 11 using 2d6+4 with rolls of 2,5.  Investigate.

Tags usadas
Truly wants to do good
Charming
Popular
A sense of belonging

Power 4. Você ainda pode fazer três perguntas. As perguntas não precisam ser exatamente perguntas que seu personagem faz em on, mas sim informações que você quer obter. Você pode guardar essas perguntas para um outro momento, mas elas ficam atreladas às circunstâncias, tags, pessoas do rolamento.

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This message was last edited by the GM at 00:51, Thu 14 Sept 2023.

Daniel repreende os adolescentes que estão rindo do colega com um olhar feio e retorna sua atenção para o garoto.

Mas o que o Rei Escarlate iria querer com o David? Tem algum lugar onde se pode encontrar esse cara? Talvez seja o caso de avisar a polícia.

Mais duas perguntas.

- Bom, aí eu já não sei, mas com certeza, ele tem a ver com isso. - diz o rapaz, chamado Brian.

- O Brian é pirado, Sr. Karasu. Isso é uma lenda urbana. - diz uma menina - Para que um criminoso que manda na cidade inteira vai querer sumir com um garoto de Orient Ave.?

- Ninguém consegue achar o Rei Escarlate. Por que? Porque ele não existe! - diz um outro garoto.

- Existe, sim, vocês vão ver. É que ele é um gênio do crime - insiste Brian.

- Vamos ver o que? Ele vai aparecer aqui só pra te dar razão?

O Diretor do colégio, Sr. John Choi, se aproxima da aglomeração.

Bom, meninos, chega. Estamos fechando. Se tiverem qualquer informação sobre o colega de vocês, procurem a polícia ou telefonem para o número do cartaz. E nem pensem em trotes ou brincadeiras de mau gosto.

Com as palavras do diretor, o grupo se dispersa e segue para a saída da escola.

É uma pena - comenta o educador - espero que o rapaz esteja bem.

Talvez fosse o caso de fazermos uma visita à família, John. Posso passar na casa deles e ver se há algo que possamos fazer enquanto instituição, nem que seja só dar suporte, diz Daniel.

Eu estive com eles hoje pela manhã - responde John - mas acho uma boa ideia. Você faria isso? Não há problema?

- Eu iria com você, mas meu primo me ligou pedindo ajuda. Parece que deu um problema com o frigorífico dele e está com o estoque todo estragado. Ele pediu ajuda da família toda para fazer a limpeza.

Daniel lembra que os Chois tem um açougue e mercadinho na Prosperity Street.

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OOC: Edit - "Armarinho" para "mercadinho".

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This message was last edited by the GM at 04:38, Wed 27 Sept 2023.

Problema algum, John, diz Daniel. Vou lá agora mesmo.

E boa sorte com o açougue, acrescenta com um sorriso.

Depois de confirmar o endereço dos Park, Daniel segue até a casa.

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