Por um momento Isaac para e olha em direção ao beco com um olhar sombrio e de poucos amigos. Os anos nessa empreitada o ensinaram a ser cauteloso e e alguém lhe convidar para um beco escuro não parecia ter as melhores intenções.

Contudo, dois motivos o impediam de seguir adiante e ignorar o chamado. O primeiro era a possibilidade de ser um demônio, a qual o seu juramento de vingança o impedia de deixar tal criatura livre. O segundo era que, na atual conjuntura, toda e qualquer informação era extremamente valiosa, logo ele precisava arriscar.

O que quer homem? Ele diz se aproximando do beco, pronto para um possível combate.

Ao se aproximar, Isaac percebe uma pequena chama bruxuleante flutuando no ar no fundo do beco, como a de uma vela, mas um pouco mais intensa.

A chama se move lentamente em sua direção e, talvez por seus olhos estarem se acostumando à escuridão ou devido ao estranho brilho que envolve o espaço abaixo do ponto flamejante, o caçador começa a vislumbrar uma forma, que se torna nítida quando para a cinco metros de distância do sombrarilho.


Saudações, caçador. Requisito uma trégua para negociação, a criatura diz num tom polido e até refinado.

Presumo que o Isaac esteja trajando roupas adequadas a esta Sombra, que são parecidas com a da criatura, mas pode estar portando uma das bestas-pistolas.
This message was last edited by the GM at 14:10, Fri 13 Mar 2020.

Como já havia visitado muitas sombras Isaac não se surpreende com a aparência da criatura. Ele ainda desconfia mas em um tom político atende ao chamado. Muito bem, vejo que sabe meu nome, nada mais justo em me dizer o seu. Pois bem, o que tem para me dizer?

As suas roupas são um pouco mais rústicas, típicas de um viajante, mas condizem com a época. Contudo, o sobretudo é grande e esconde a maioria das peças. A besta-pistola está atrás da cintura, escondida pelo sobretudo, junto com uma pequena quantidade de flechas.

Pode me chamar de Dom Felipe, senhor Isaac, responde a criatura com um meneio da cabeça.

Vejo que é um homem direto, sem tempo para teretetês. Pois bem, deixemos de lado os entretantos e vamos direto aos finalmentes.

A grande tapeçaria cósmica é uma majestosa obra de arte, organizando harmoniosamente os vários fios da existência. E nesse grande arranjo, eis que, não mais do que por coincidência, formam-se emaranhados que juntam trajetórias díspares, cujos destinos jamais se cruzariam, Dom Felipe narra, mostrando-se mais prolixo do que esperado para alguém que ia "direto aos finalmentes".

Um desses emaranhados diz respeito à vossa senhoria e a mim. E o nome do nó é Cernobubos.

Para deixar claro, nos três meses que Isaac esteve nessa Sombra, ele jamais viu alguém com cabeça de animal. Parece só haver humanos.

Toda desconversa o levava a uma conclusão óbvia. Pois bem, vejo que você também não é "daqui". Ele diz ironicamente, se referindo a sombra.

O sangue de Isaac ferve ao ouvir o maldito nome e a impaciência toma o seu espírito. Sem notar, ele não retribui a cordialidade do possível aliado. Mais uma vez, vejo que sabe mais de mim do que eu sei de você. Diga me, de onde veio e por que está atrás desse demônio?

Rude, Dom Felipe diz pra si mesmo e, então, parece sorrir – é difícl para Isaac identificar as expressões faciais de um bode.

Minha origem reside em outro plano, por assim dizer, meu caro.

E acho que não me expliquei com clareza. Não estou atrás de Cernobubos; muito pelo contrários, quero distância dele. Temos opininões divergentes sobre interesses comuns e isso faz de mim persona non grata para ele.

Dado que o senhor também não nutre sentimentos nobres por ele, achei que poderíamos nos ajudar mutuamente.

Não se preocupe, sem bem do que está falando. Eu mesmo não pertenço a este. Ele diz num tom um pouco mais amigável.


A possibilidade de Dom Felipe ter sido aliado de Cernobubos, mesmo que por um breve momento, intriga Isaac. E que tipo de interesse em comum você teria com um demônio?

Dom Felipe ri. Pelo menos, é a melhor interpretação que Isaac cosnegue dar ao som que o ser emite.

Assunto por demais enfadonho para este tête-à-tête, meu caro. Melhor nos concentrarmos no nosso interesse em comum. Veja, disponho de informação sobre o paradeiro do demônio, mas como não possuo uma índole agressiva, de pouco me vale esse conhecimento.

Contudo, vossa senhoria dedica sua vida a caçar monstros e possui uma vendeta contra Cernobubos. A mim parece que tal informação lhe seria muito útil.

No espírito de cooperação universal, estou disposto a compartilhar esse dado, pedindo em troca unicamente que vossa senhoria haja com presteza em lidar contra nosso desafeto. Mesmo porque, não há garantias de que Cernobubos permanecerá no mesmo lugar por muito tempo.

Temos um acordo?

Cernobubos sempre foi o principal alvo, logo a informação era realmente muito valiosa para Isaac. Por hora o acordo lhe parecia vantajoso. Pois bem, diga-me onde ele está e eu me encarrego do resto. Mas não pense que me esquecerei de você

Só pra ficar claro então, o Dom Felipe é ou não um demônio? Imaginei como se fosse um Fauno.

Dom Felipe ergue sua mão esquerda e vira a palma pra cima. Luz e sombra começam a se misturar sobre a mão, formando uma imagem...


Ele está neste plano, meu caro. Imagino que uma vez lá, será fácil encontrá-lo, ele sendo um demônio e tal...

Não sei qual a experiência do Isaac com faunos, mas Dom Felipe parece mais um bode antropomórfico. Ele fez questão de não mencionar o que era.

Ummmm, uma cidade grande, e abandonada. Ele fala consigo mesmo. Não parece um bom lugar para um demônio ir, não deve ter muitas vítimas. A não ser que ele esteja fugindo...Tudo bem, você fez como prometido, agora eu que devo honrar com minha parte da barganha.
Ele se vira e caminha de volta para preparar seus equipamentos para a caçada. Melhor informar os outros sobre isso, essa não é uma perseguição qualquer.

Vou voltar para onde guardo meus equipamentos e depois vou me reunir com meus aliados para discutir sobre isso.

Em 15 minutos, Isaac está de volta ao sobrado de dois andares que pertence a Fausto. No térreo, funciona uma livraria e no andar de cima fica a residência do ocultista. É lá que o sombrarilho tem ficado enquanto reside nesta Sombra; afinal, espaço não falta. O caçador já percebeu que seu anfitrião não é desprovido de recursos.

Ao subi as escadas, Isaac encontra Fausto em seu gabinete, tentando decifrar um livro-caixa.


Ah, Isaac. Espero que sua caminhada tenha sido satisfatória. o Ar da noite é um tônico fortificante para mim.

De fato, foi uma caminhada satisfatória, meu amigo. Entretanto aconteceu algo um tanto quanto inesperado. Ele responde com um sorriso sombrio.

Isaac relata o acontecimento daquela noite a Fausto. Então, acha que pode ser alguma armadilha?

Fausto considera o relato do colega e vai até sua estante, de onde puxa um livro grande de capa preta. Na lombada, Isaac pode ler "Ars Goetia e Entidades Afins".

O ocultista folheia o volume até parar numa página específica. Então, vira o livro aberto na direção de Isaac.

Acredito que você tenha encontrado um poderoso demônio: Baphomet. Poderoso o suficiente para se manifestar sem ser conjurado. Se alguma entidade poderia ter informações privilegiadas sobre outro demônio, seria ele.

Contudo, nunca ouvi falar de Cernobubos ou vi qualquer referência a ele nos textos acadêmicos, por isso não tenho como verificar se realmente haveria alguma inimizade entre eles, Fausto relata.

O local onde esse demônio se encontra é longe?

Não ficou claro se o Isaac contou tudo, inclusive que é um sombrarilho. Presumi que deixou essa parte de fora.

Isaac sente-se enganado pela criatura, mas acaba se conformando pois nunca tinha visto um demônio agir tão racionalmente. Isso provavelmente explica a ligação dele com Cernobubos. Contudo, se ele realmente é poderoso, por que ele mesmo não faz o serviço? Talvez seja uma armadilha, mas estou disposto a arriscar.


Isaac revela para Fausto os segredos dos andarilhos e suas habilidades. Além disso conta sua história sobre como se tornou um caçador de demônios.

Meu principal objetivo é matar o Cernobubos.

Se esse Cernobubos for igualmente poderosos, é uma maneira de Baphomet não gastar seus recursos para lidar com o inimigo, pondera Fausto.

Mas sabendo que pode ser uma armadilha, você está em vantagem.


Fausto parece igualmente estupefato e maravilhado pela revelação. Ele senta a sua escrivaninha, pega um caderno e começa a anotar tudo que Isaac diz. Várias vezes, o ocultista interrompe o colega e faz perguntas para esclarecer determinados pontos.

É incrível, Isaac! Mas agora as coisas fazem sentido, como o fato de eu nunca ter ouvido falar de Cernobubos. Talvez ele seja um demônio só na sua Sombra – Faldillon, correto? –, sendo desconhecido aqui.

Meu principal objetivo é matar o Cernobubos.
Entendo sua obstinação, amigo. Infelizmente, não creio que possa ajudá-lo em sua jornada pelas Sombras, mas saiba que sempre terá um amigo em Fausto Nigro. E se precisar de qualquer coisa que possa fornecer para a sua missão, é só dizer.

Isaac sente-se grato pela preocupação do amigo. Agradeço a prontidão meu caro. Por mais que eu tenha alguma vantagem, Cernobubos é tão poderoso que me obriga a ter o dobro de cautela. Mas antes de partir, acredito que a opinião do Joaquim e da Esmeralda viriam a calhar. Poderia convocá-los?

Estou com uma dúvida, se eu encontrar um shadowpath nessa sombra, ele já tem um destino fixo ou eu posso mudar o destino dele pra onde eu quiser e levar meus aliados comigo?

Pra rastrear um shadowpath eu uso minha habilidade shadow?

Claro, Isaac. Enviarei uma mensagem imediatamente, mas creio que só os veremos amanhã. Também pedirei que sirvam a ceia, diz Fausto.

O jantar é aprazível, como sempre, e os dois investigadores do oculto terminam a noite com um cálice de vinho do porto.

Quando Isaac desperta pela manhã, já encontra Joaquim e Esmeralda à mesa do café, conversando com Fausto, que já adiantou a natureza do assunto. Todos cumprimentam o sombrarilho, embora Esmeralda – que nunca confiou completamente em Isaac – se mostre ainda mais ressabiada.

Alvíssaras, Isaac! saúda Joaquim num tom jovial. Que reviravolta, não? Estou curioso para saber que tipo de conselho deseja de nós.

Esmeralda apenas levanta uma das sombrancelhas.

As sendas sombrias são fixas, levam de A a B. Até onde você sabe, não tem como alterar seu curso. Mas Isaac é um sombrarilho, ele não precisa de sendas – é capaz de abrir seu próprio caminho e levar outros consigo. Encontrar uma senda, se ela existir, é PER + Shadow.

Saudações Joaquim! Ele o cumprimenta com um aperto de mão, já Esmeralda ele apenas faz um gesto positivo com a cabeça. Madame...

Bom, creio que Fausto tenha informado-os da situação. De fato pedi para chama-los para pedir suas opiniões sobre o convite de Dom Felipe. Mas a noite tomei minha decisão a pretendo ir atrás do Cernobubos, mesmo que seja uma armadilha.
Contudo, creio que não deixei claro em minha conversa com Fausto algumas das habilidades de um sombrarilho.

Além de poder caminhar pelas diferentes sombras, também posso levar pessoas comigo. Confesso que gostaria de acabar com Cernobubos sozinho, mas creio que posso não conseguir realizar tal façanha. Eis que lhes faço esse convite, juntariam-se a mim para eliminar este demônio? Isaac não se sentia confortável em fazer um pedido, porém a sua vingança não o deixavam cego, ele reconhecia que uma batalha sem aliados poderia ser perigosa.

Vejam, eu irei de qualquer forma, sintam-se livres para recusar o pedido.

A proposta pega de surpresa até Fausto e os três companheiros se entreolham, meio que perdidos, até que o cultista fala primeiro.

Como lhe disse ontem à noite, Isaac, não creio que tenha como lhe ajudar, embora a ideia de conhecer outros mundos e caçar o Mal por lá tenha grande apelo, ainda há muito o que fazer aqui.Por isso, tenho que recusar o convite, mas reitero minha promessa de lhe ajudar no que puder, diz Fausto.

Amigo Isaac, começa Joaquim. Estou muito lisonjeado que me considere digno – e capaz – de tal empreitada, mas confesso que não tenho a mesma confiança que você em minha competência física.

Uma coisa é auxiliar Fausto em suas investigações, que, é verdade, possuem o péssimo hábito de terminarem em alguma escaramuça, mas operam em um nível de realidade que compreendo. Outra é sair em expedição a outro mundo para caçar um príncipe do Inferno.

Receio que tenha que optar pela discrição e também recusar seu convite. Contudo, assim como Fausto, ajudarei no que puder.

Esmeralda dá uma forte tragada no cigarro que acendera e solta a fumaça numa grande nuvem entre ela e Isaac.

De jeito nenhum, responde explicitamente. Não confio completamente em você e não entendo essa magia que diz possuir. Por que chama os mundos de "Sombras"? a pergunta é feita com um tom de desconfiança.

Além disso, vejo caos em seu futuro. Prefiro viver minha vida, difícil e perigosa como é, em um lugar de luz e escuridão do que nas suas Sombras.

Esmê, Fausto intercede. Somos amigos, ou, pelos menos, colegas aqui.

A jovem calon desfaz do comentário com uma careta.
This message was last edited by the GM at 16:24, Tue 17 Mar 2020.

Isaac não fica chateado com a recusa dos amigos, já imaginava isso. Ele da uma risada e responde com um sorriso. Não custava perguntar não é? Chamar ajuda era um ato para assegurar uma vitória contra seu arqui-inimigo, jamais foi um ato de covardia, ele não sentia medo algum.

Ele se despede com um humor meio negro.Bem pessoal, acredito que irei partir em minha aventura imediatamente. Sair vivo não é meu objetivo, mas se eu conseguir, um dia voltarei. Ainda existem muitos demônios por ai. Ele saúda os amigos e parte em direção a sombra.

Estou indo com os equipamentos na minha ficha:
 1 Besta-Pistola
20 Flechas
 1 Bomba de fumaça
 1 Bomba mágica explosiva
 1 Bomba explosiva (pólvora)
 1 Amarra
Minha vestimenta são roupas de couro, além do casacão.

Isaac se despede do trio, recebendo um farnel bem provido de Fausto, e inicia sua jornada pela avenida central, da qual a rua do sobrado de Fausto é uma transversal. A imagem da cidade desolada está clara em sua mente.

O caçador começa a manipular a Sombra: os postes vão se tornando mais altos, o número de pessoas aumenta, os prédios crescem e assim por diante. Doze dias depois, Isaac chega a seu destino.


Ao caminhar por esse cenário de abandono, Isaac percebe uma sensação. É algo que não consegue precisar e que não está presente em primeiro plano, mais como um leve formigamento no fundo da mente. Um incômodo com tudo ao seu redor, como se algo estivesse errado ou quebrado.

Só lembrando que essa bomba mágica não é confiável, porque as regras de magia mudam e não necessariamente ela é compatível com as outras.
This message was last edited by the GM at 20:36, Tue 17 Mar 2020.

A viagem levou mais tempo do que ele esperava. Ao julgar pela vegetação aparente a cidade parecia abandonada a um bom tempo. Sua primeira preocupação era encontrar suprimentos, além disso enquanto caminha pela cidade abandonada, Isaac também procurava por vestígios recentes de atividade humana. Sua ideia era conhecer melhor aquela sombra, antes de seguir com a sua caça.


Vou usar minha habilidade survival tanto pra achar comida quanto para achar humanos

Quanto ao lance da bomba, por isso eu ando com 2, pra caso uma delas não funcionar na sombra. Só vai ser ruim se as duas não funcionarem.

Após algum tempo, Isaac encontra um lugar que parece com uma mercearia, só que muito maior, com longas gôndolas. Parece já ter sido alvo de saques, mas ainda há produtos nas prateleiras. Ele rapidamente recompõe seu farnel.

De repente, ele houve um barulho vindo do fundo do estabelecimento.

Apesar de estar procurando por pessoas, Isaac age com cautela no local desconhecido. Ele fica alerta com o barulho e já arma a sua besta-pistola, enquanto caminha em direção aos fundos, agachado e usando as prateleiras como cobertura.

Se o farnel for muito grande eu deixo ele no chão e também já vou com uma mão perto das bombas.