Era uma noite fria e úmida em Berlim. Poucos se aventuravam na rua, onde um vento cortante, hábil em encontrar as mínimas frestas nas roupas dos transeuntes, completava o cenário deprimente.


Enquanto cruzava a praça Potsdam com passos calculados para não chamar atenção, David Montero Spielmann recordava as palavras do mestre Mo-Tsi.

Crueldade, terror, desumanidade são expressões do Caos. Sua missão é trazer a luz da Ordem aos mundos cobertos por essa escuridão. Ande pelas sombras, aprendiz, e as ilumine.

Era por isso que David se encontrava em Berlim. Não era a sua Berlim, a Berlim de Reichswelt, mas era uma Berlim igualmente controlada pelos nazistas. A diferença era que, nesta Sombra, os alemães haviam ganho a guerra há 35 anos – era 1980.

Do outro lado da praça, um café acenava com a promessa de calor externo e interno. Era também onde David encontraria o seu contato com a resistência local. Sua intenção era fornecer ao movimento recursos que "contrabandearia" de outro mundo.

Com o café distante ainda uns 50 metros, o sombrarilho percebe que está sendo seguido. Múltiplos passos atrás dele, mais ou menos a uns 15 metros de distância. Duas pessoas, provavelmente.
This message was last edited by the GM at 23:58, Wed 04 Mar 2020.

David cruzava a praça na figura de Tobias Gruber, um distinto vienense septuagenário. Demonstrou cansaço com a caminhada, murmurando: Virgem Santa, minhas pernas! Sentou-se num banco próximo, enfiou a mão na sacola de compras e apontou a pistola na direção daqueles que o seguiam. Onde é que eu deixei meus papéis?..., resmungava com o sotaque cantado que David aprendeu a representar com maestria. E, assim, aproveitou para dar uma boa olhada, ajustando a pontaria enquanto fingia vasculhar a sacola.

As duas figuras, um homem e uma mulher, que seguiam David se aproximaram até uns 10 metros de distância e pararam. Toda s sua postura indicava que tinham consciência de que havia uma arma apontada para eles. Não eram amadores.

O homem era alto Р1,80 m Рe louro, com fei̵̤es arianas perfeitas. Vestia terno e cal̤as sociais escuros por baixo de uma capa de chuva bege. O volume das roupas sugeria um corpo atl̩tico.

A mulher tinha cabelos pretos presos num coque e sua beleza física se equiparava a do homem. Tinha 1,70m e se vestia com uma versão feminina do vestuário do colega, mas sua capa de chuva era preta.

Os dois contemplaram o senhor idoso por alguns instantes, até que o homem lhe dirigiu a palavra.

Guten Abend. O senhor é de fora de Berlim, não?

Servus!, disse Tobias com amabilidade aos outros dois. David nunca saia da personagem. Onde estão meus benditos papéis?... Tobias puxou o ferrolho da sua Colt. 45 e aprimorou a mira enquanto remexia a bolsa. Tinha a chance de oito disparos, antes de recarregar, o que lhe dava uma vantagem tática àquela distância.

Tobias levantou um olhar paterno sob a aba de seu Fedora. Os bigodes brancos se erguiam num sorriso ao prosseguir: Da terra do nosso Führer... E, em resposta aos dois imóveis à sua frente, Tobias pergunta com a mesma simpatia: E como eu posso servir a esse belo casal?

(Tobias vai atirar contra os dois caso façam qualquer movimento brusco/agressivo, usando o ponto de Sorte, um disparo em cada)

O senhor ajudaria se parasse com essa interpretação de velho confuso. Quanto mais tempo passamos aqui, mais chance de chamarmos a atenção da Gestapo, diz o homem com as mãos no bolso da capa de chuva.

Sabemos que o senhor não é daqui , completa a mulher. Sua assinatura quântica é diferente da desta realidade. A questão é como o senhor chegou aqui. E para quem trabalha.

O senhor usou um projetor paracrônico ou é um saltamundo? o homem prossegue. Se trabalha para o Centrum, aviso que não deixaremos que interfira neste paralelo.
This message was last edited by the GM at 17:37, Thu 05 Mar 2020.

Ah, é claro, meus jovens... Perguntas sinceras merecem respostas sinceras. Por favor, sentem-se devagar nesse banco à minha frente e mantenham as mãos onde eu possa vê-las.

Tobias agora marcava bem as palavras, com a expressão facial de quem fala por códigos. De fato, eu não sou daqui. Não tenho nenhum projetor. E meu único compromisso é com a Verdade! Trabalho pela Vida, pela resistência à tirania, pelo despertar da consciência. Ele levantava as sobrancelhas, buscando saber se se fazia entender. Agora, digam-me: ao que vocês são leais? E onde se supõe que vocês deveriam me encontrar? Terminou a frase novamente com amabilidade.

Nós estamos armados também. E uma troca de tiros vai estragar seus planos com a "Verdade", o homem responde sem se mover ou tirar a smãos do bolso.

Você é um freelancer? a mulher pergunta, também sem aceitar o "convite" de David. Interferir num paralelo assim pode causar sérios problemas. Despertar a consciência e resistir à tirania pode não ter o efeito que você quer.

Nosso trabalho é monitorar a situação e conter ações como a sua, embora nossos adversários usuais sejam menos altruístas que o senhor parece ser. Por isso, pedimos que desista e vá embora. Vai ser melhor para todos.
This message was last edited by the GM at 20:47, Thu 05 Mar 2020.

"Sérios problemas" você diz, senhorita!? Tobias remove a arma da sacola e mira diretamente no homem loiro. E acaso o genocídio de milhões seria "o melhor para todos"!? Ele levanta cautelosamente do banco. Escutem: prometo que vocês não me verão mais! Mas, por favor, meus jovens, eu rogo: voltem para os seus lares! Aquela súplica paternal era verdadeira e visível.

(Com a mira no loiro, em caso de qualquer reação ofensiva, David vai disparar primeiro nele e depois na mulher ao lado)

A expressão nos rostos dos dois interlocutores é de estupefação.

Você é maluco?! o homem exclama e olha pros lados.

Fuck, é tudo que a mulher consegue dizer.

Do outro lado da praça, a 70 metros de distância, dois SS olham na direção do trio. Eles hesitam por um segundo, incertos de que realmente estão presenciando aquela cena, mas enfim se convencem de sua veracidade e começam a correr em direção ao grupo, enquanto sacam suas pistolas. Um deles assopra insistentemente um apito, alertando os pedestres e outras autoridades próximas do problema.

O homem olha pra mulher e acena com a cabeça. Ela responde com o mesmo gesto e os dois correm em direções opostas.

Eles começaram a correr, mas o David pode atirar já quando eles estão saindo se quiser. Os SS chegarão em 2 turnos, mas podem atirar antes.
This message was last edited by the GM at 20:35, Fri 06 Mar 2020.

Salvos pelo apito! David dá um sorriso aliviado. Ele arranca na direção oposta aos soldados SS. E, aproveitando o negrume local, transmuta-se imediatamente na sua forma avatar, a ave Garuda. Assim, David alça voo e busca se ocultar numa das marquises que dão vista para o interior do Café ao qual ele se destinava.

(Faço uso de um DP para o pico de poder. Se não for possível, tento me transformar num turno durante a corrida)

Do alto prédio, David observa os SS pararem no meio da praça confusos. Eles olham para os lados e para o céu, procurando o sombrarilho. Logo, chegam alguns policiais, mas depois de confabularem, eles se dispersam.

Como é um prelúdio, não precisa gastar o DP. Fica como licença poética. Quando você diz ave Garuda, quer dizer uma águia?

O prelúdio termina aqui, mas deixo o tópico aberto para mais um post seu.

Alfa e Ômega. Solve et Coagulam. Yin e Yang. Todos os opostos se reconciliam no Uno, o Eterno Movimento, a Ordem Oniversal. Do alto daquela marquise David ponderava sobre o propósito sacerdotal da sua existência. Nada o demoveria do seu caminho discipular de promover a Harmonia através das Sombras.

Estava determinado a descer dali, entrar naquele Café na sua forma humana original e estender uma mão de apoio aos seus irmãos perseguidos.