Antevéspera da Batalha de Poaret
Mais uma vez,
Branco teve uma noite agitada, volta e meia acordando sobressaltado. Recostado numa árvore, atrás do templo, sabia que não corria riscos enquanto os sentinelas fizessem turnos de vigília. No entanto... não era isso. Não era medo que lhe atrapalhava o sono. Mas uma insistente impressão de acossamento... como sussurros raivosos no seu ouvido. Chegou a duvidar se não estava enlouquecendo.
Pela manhã todos pareciam já estar engajados nas suas tarefas. Pela primeira vez, os hobbits lhe dirigiram olhares contentes, de agradecimento pelo retorno. Mais ainda,
Oriag, na noite anterior.
Branco, então, decide esquadrinhar o terreno.
Poaret está inserida numa amplíssima clareira, no meio da floresta. Tem um formato de bacia, para o centro da qual parece escoar a água subterrânea que abastece a vila e irriga as plantações. Nessa parte baixa é onde fica a praça central.
A via nordeste de acesso é visivelmente a mais usada, dadas as marcas de pisoteio. É mais cascalhosa e retilínea — o que, para invasores montados, é ideal num ataque em carga. Já a via sudoeste, esta é mais lamacenta e passa por uma garganta entre dois morros, perfeita para uma emboscada.
Contornando a borda da mata ao redor de Poaret,
Branco não viu qualquer sinal de batedores. Mas, caso houvesse, não precisariam chegar perto para notar que a vila se fortificava — as marteladas e o vozerio ecoavam longe.
* * *
Enquanto isso,
Dukac reforçava o treinamento militar, ao passo que desenhava as táticas de defesa.
As paliçadas serviriam para conter a cavalaria, mas os lanceiros e os arqueiros deveriam estar bem posicionados para repelir os invasores. Pensando nisso, o bárbaro também deu a alguns peões a tarefa de cavar fossos. Contudo, apesar dos esforços, as armadilhas ainda precisavam de melhoras... o que foi frustrante para todos.
* * *
Lain:
Força, precisamos ter certeza que a estrutura está sólida o bastante! Usem todo o material que precisar.
O empenho de
Lain cativou os aldeões, e até os recém-chegados se juntaram na edificação das guaritas elevadas. Os postos de observação, posicionados próximo aos dois principais acessos, garantiam uma boa visibilidade sob neblina, além de um ótimo alcance para os arqueiros.
Talveg,
Dimur e os demais não tinham contado nada ainda sobre a Sábia. Esperariam a noite, quando todos estivessem reunidos.
* * *
Oriag, que até então andava perdido entre os livros do Conselheiro, convocou a presença dos líderes na área de treinamento no fim do dia. Ele tinha uma descoberta a anunciar.
Tanta empolgação e jovialidade!
Branco imaginou o tombo que ele tomaria se tivesse visto o que presenciou em Dervis.
O aprendiz da Sábia declarou ter desvendado o real interesse dos málvaros na mina de sal de Poaret. Em baixa concentração, o musgo pode ser usado como entorpecente. Porém, o produto extraído de altas concentrações da planta, associado à proporção certa de sal e carvão, produzia um potente explosivo!
Permitam-me demonstrar! Para trás, por favor!, ele exclamou, animado. Tirou da caixa um pote esférico de cerâmica, com uma ponta de brasa acendeu o pavio que pendia do pote e arremessou contra os bonecos de palha.
POOOWWW!!!
Num lampejo, três bonecos voaram despedaçados! Os aldeões vibraram em comemoração. Já o Conselho se mostrou divido entre a esperança de salvação e o medo daquele poder destrutivo.
Infelizmente, só tinha o suficiente para produzir esse tanto, completou, indicando o interior da caixa de madeira.
Vocês têm +6 bombas (2d6 dano cada).
Moral dos hobbits: -1.
* * *
À noite, após o jantar, todos se juntaram em torno do açude da vila.
Talveg, o Pardo, tomou a palavra para dar as más notícias. A Guerra começou. Inae de Jakin foi assassinada e o Conselho Regente de Dervis se desfez. Os Anciãos de cada Tribo se encastelaram. A Era do Búfalo chegou ao fim.
Como o ladino previra,
Oriag tombou de joelhos e as lágrimas lavaram-lhe o rosto. Muitos na hora compartilharam da sua dor.
Os instantes de choque foram cortados por uma súbita ventania. O ar sibilava em pulsos, a cada rajada de vento. De repente, abriu um clarão no céu nublado. Uma lua cheia despontou, refletida na água do açude. E, assombrosamente, todos começaram a ouvir uma voz que se confundia com o assobio do vento.
Cree deu um longo uivo, saudando a presença da Sábia. Seu rosto negro e brilhante surgiu, tremeluzindo sobre as águas, no reflexo da lua.
Guardem a união, meus filhos!
Essas foram as últimas palavras da Sábia.
This message was last edited by the GM at 19:33, Tue 30 Mar 2021.