As breves horas de dia já estavam por encerrar. À medida que o crepúsculo aumentava, também o fazia o frio. Nesse entardecer, o ar estava mais seco, não nevava, mas um vento forte uivava pelas ruas de Sharu.
Dukac:
Ora, não teremos problema algum. Tenho certeza que ainda há lugares para conhecer nessa cidade. Dukac passa sua mãozona no ombro de Kaan
O comandante deixou escapar um riso satisfeito, deu meia volta e liderou o caminho em direção ao comissariado.
Dukac deu as instruções à elfa e o seguiu.
Lain:
Fique tranquila, menina, não vamos te fazer mal, falou para a jovem enquanto a conduzia para longe dos dois.
A menina deu um tremelique, e não foi de frio. A pobrezinha parecia um animal assustado, com medo da próxima surra.
As duas se afastaram do mercado de escravos e, nos limites da feira, encontraram com o misterioso albino. Depois de ele escarnecer da situação do bárbaro, acrescentou à meia voz:
Branco:
Mantenha-se perto o bastante deles e intervenha se necessário, eu estou seguindo uma pista sobre quem nos observa. O ladino sussurra para que ninguém os escute, até mesmo a escrava.
Seria uma tarefa difícil espionar
Dukac e cuidar da menina ao mesmo tempo. Mas, antes que
Lain pudesse argumentar...
Branco:
Bem, e essa ai? Acho que teremos que cuidar dela por um tempo. Ele diz em um tom indiferente, mas que lá no fundo, se interpretado com muita boa vontade, poderia haver uma certa empatia.
...
Branco lhe solta mais um comentário ácido e a deixa novamente.
* * *
Lain caminhou com a garota, que se fazia chamar apenas por "
Ani", até a extremidade sul da vila, onde havia portões diametralmente opostos (e igualmente protegidos) àqueles por onde os três entraram.
Ali perto estava uma grande casa pública, transformada em comissariado, fazendo frente com um casarão -- outrora luxuoso --, onde deveria se instalar os verdadeiros mandatários do povoado.
Lain não pôde ver bem seu interior de longe. Mesmo assim, sem dúvida o lugar estava infestado de soldados orcs bem equipados.
Dukac estava entrando na boca do lobo.
* * *
Kaan conduziu
Dukac para dentro do comissariado e nem precisou dar ordens. Seus subordinados, cerca de 12 orcs, agiram conforme um protocolo: foram todos ocupar esse salão de entrada, deixando vazio o cômodo aos fundos.
Em verdade, a porta dos fundos dava para uma escada; e, a escada, para uma adega subterrânea.
O lugar estava em cacos e, para um desgosto ainda maior, fora adaptado para uma câmara de tortura -- com correntes, instrumentos ensanguentados e aquela pestilência entranhada.
O comandante, tirando seu pesado escudo das costas, disse:
Pode se despir.
* * *
Uma vez abastecido dos seus ilícitos,
Branco aproveita para explorar os arredores do estábulo.
A construção ficava num canto um pouco mais ermo da vila, mas não livre de movimentação. E, exceto pela passagem de um ou outro viajante, nada de mais saltou à vista do ladino.
Já começava a escurecer e
Branco suspeitava haver se enganado quanto ao bilhete.
Contudo, de onde ele observava, um detalhe lhe chamou a atenção: o estribeiro dormia pesadamente na sua cadeira há muito tempo, sem se mexer. Quer dizer, ele não estava morto, o seu ventre inflava e esvaziava. Com cuidado,
Branco se aproximou e a ficha caiu -- o ladino sabia muito bem reconhecer os efeitos do "óleo de Tagit".
Foi então que
Branco escutou som de passos no interior da cavalariça, perto das cocheiras. Sem cerimônia, o ladino foi olhar e viu o encapuzado de costas.
Que bom que você veio! Precisamos conversar, disse o sujeito se virando e baixando o capuz.
Branco só havia visto aquele rosto uma vez na vida, mas foi o suficiente para reconhecê-lo.