O interior do Templo assumiu uma atmosfera densa. À luz de velas, o ambiente parecia ainda mais solene.
Yulot continha os murmúrios exaltados do júri, tentando garantir um julgamento neutro.
Não obstante, o depoimento do ladino incendiou seus ânimos.
Branco:
Eu estava dormindo, mas inquieto. A algum tempo venho sentido isso... uma... presença, que tem ficado cada vez mais forte. Começo a acreditar que não é algo vivo. Um momento de silêncio após essa revelação mostrou um espanto genuíno nos presentes. Eu escutei um sussurro, mas apenas na minha cabeça. A mensagem se repetia cada vez mais alto, até de fato virar um som. Acordei com a voz do garoto, mas não parecia ser ele. Ele estava com minha adaga e os olhos completamente negros. O ladino olha perdido para o horizonte enquanto finaliza, Não tive tempo de reagir, ele acabou tirando a própria vida. E encerra sem depoimento retornando ao silêncio que havia mantido.
Isso é um absurdo!, irrompeu
Tanás, um hobbit de meia idade, mais aguerrido.
Você insinua que um fantasma matou o pobre rapaz com a sua própria arma?!
Respeitem a palavra, senhores!,
Yulot tentou moderar, mas em vão. A discussão ficou generalizada.
E que motivo ele teria para o assassinato? Ele voltou e lutou por nós!, argumentou outra membro do júri, mais nova.
E saquearia toda a vila, se não houvesse quem o freasse!, retrucou um terceiro.
Lain:
Me perdoe a interferência, senhores, mas Branco é inocente. Ele está falando a verdade. Sei que é difícil de aceitar, mas peço que acreditem nele.
E como vocês explicam esse disparate de que um demônio tomou o corpo do jovem e se matou, apenas para incriminar esse homem?, insistiu
Tanás, com o dedo estirado na direção de
Branco.
De repente, as portas do Templo se escancararam.
Demônio não. Um nijd!, interrompeu
Oriag, que entrou no recinto quase se arrastando, com o auxílio de uma muleta.
Atrás dele vinham dois dos sentinelas hobbits carregando o corpo de Polo numa padiola.
Todos os presentes permaneceram em silêncio, enquanto
Oriag coxeava lentamente até parar ao lado de
Branco, diante do altar e do júri. Ele ainda tomou um pouco de ar, em razão do esforço, antes de continuar:
Um espírito trevoso. A vítima, quando possuída, permanece com os olhos negros, dessa forma..., disse apontando para o corpo,
mesmo depois do óbito.
Isso aquietou o júri, embora
Tanás ainda se mostrasse inconformado.
Yulot tinha uma expressão de ligeiro alívio.
Sendo assim, se ninguém tiver mais provas contra o acusado..., ele sentenciou, olhando para cada um dos presentes,
levante a mão quem o considerar inocente.
Cinco levantaram a mão, Yulot inclusive. Tanás e um outro mantiveram a mão baixa e o cenho franzido.
Dessa forma, em nome dos antigos deuses, que ninguém questione a inocência de Branco na morte do jovem Polo.
Que assim seja, tal como foi dito, responderam os membros do júri em uníssono.
E, quando o caso já estava dado por encerrado,
Yulot emendou:
E, na condição de alcaide de Poaret, determino que Branco deixe a vila e vá com os demais ao encontro do Mestre Mulligan, da Tribo de Huur, onde há de ser curado dos seus males. Partam antes do amanhecer.
Oriag fez uma ligeira reverência, com a mão no peito à maneira de Dervis, em agradecimento.
* * *
A elfa e o ladino deixaram o Templo na frente dos outros. E, na saída, viram
Dukac — a pé e todo ensaguentado — descer a via nordeste arrastando uma gigantesca cabeça de lobo!