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Welcome to A conquista de Uhter

04:56, 3rd May 2024 (GMT+0)

Branco

Um albino era considerado sinal de agouro e má sorte em diversas culturas. Assim nasceu o terceiro filho de Sr. Gale e Margaret, pálido e sem cor. A parteira, sem esperar por aquilo, tem um susto e grita instintivamente. Sr. Gale entra no quarto de forma bruta e a parteira já segura o bebê embrulhado em um lençol branco, com um semblante de culpa. Ele corre entusiasmado, mas logo a euforia se transforma em terror, como se a palidez do filho fosse contagiosa. “Está morto?” Ele pergunta a ela, que logo em seguida responde “Não senhor, ele respira. Mas não entendo porque não chora.” Ela fala como se pedisse desculpas. “Mas porque ele é assim...” Sr. Gale se questiona, com um sentimento de confusão, sem esperar por uma resposta. Ele se volta para a esposa, que até então não havia dito nada. “Querida, querida..., querida...?” ele a chama sem retorno. Finalmente, naquela noite se instaurava a emoção que governaria a vida do Sr. Gale, raiva.
Três anos se passaram, Terry e Noy tinham 6 e 8 anos. O terceiro filho do Sr. Gale não chegou nem a receber um nome, pois ele não achou que a criança fosse sobreviver por tanto tempo. Não que Sr. Gale tenha de fato tentado matar a criança, mas ele nunca se esforçou muito para mantê-la viva. Era estranho ver um bebê que não chorava, ou não ria. Era como se um fantasma abitasse sua casa, e boa parte do tempo ele nem mesmo via a criança.  A distância entre a sua pequena casa e o vilarejo facilitava os maus tratos, e muitas famílias nem mesmo sabiam da existência da criança. A raiva de Sr. Gale tinha se acumulado por tanto tempo que ele já não era mais capaz de mantê-la para si, e seu único momento de prazer era batendo em seu filho. Terry e Noy ficavam de fora na maioria das vezes, mas eventualmente eram pegos pela tempestade.
Mais alguns anos se passam e, agora apelidado de Branco pelos irmãos, vive como um escravo em casa. Não lhe é permitido sair das redondezas da residência e ele é responsável pelos afazeres domésticos. As surras do pai e a humilhação dos irmãos, que o culpavam por tudo, é diária. A cada dia que passava Branco reagia cada vez menos emocionalmente, o que só intensificava as ações de ódio.
Agora com 11 anos Branco apanhava sem aparente razão de Sr. Gale, e o único que chorava nas surras era seu pai. Nestas últimas surras seu pai costumava gritar enquanto lágrimas escorriam “Você tirou tudo de mim!”. Isso intrigava Branco, pois como podia ele ter tirado tudo se não tinha nada. Como ele poderia ser culpado por algo que nunca fez? E então ele decidiu fazer um experimento, de realmente cometer um crime de que ele era culpado. Ele começou roubando pequenas coisas de seus irmãos, sem que fosse notado, causando confusão na casa. E pela primeira vez Branco se sentiu bem. Ver os seus irmãos brigarem por algo que havia perdido o fazia levemente feliz, e logo ele se acostumou com essa sensação. Não demorou muito para que ficasse óbvio quem cometia os pequenos furtos dentro da casa. E claro, Branco apanhou muito por isso, “Vai roubar dos MEUS FILHOS agora? Seu monstro!?” gritava Sr. Gale enquanto seus irmãos riam no fundo. E pela primeira vez o ódio de seu pai o tocou e uma ideia brotou em sua mente. Sim, ele iria roubar os filhos dele, pois naquele momento ele deixou de se ver como um membro daquela família. Há algum tempo Branco havia criado uma pequena poção do sono, que usava em si mesmo para dormir. A poção já não lhe fazia efeito, mas ia calhar bem para aquela situação. Alguns dias depois ele preparou a poção e colocou nas bebidas de seus irmãos, que pouco depois caíram no sono. Como já era noite Sr. Gale os carregou até a cama e foi dormir. Pouco depois Branco entra no quarto dos irmãos, e os observa por uma última vez. Ele se aproxima de Terry, e coloca a mão em sua boca. Com um golpe seco ele enfia uma faca em seu coração. Terry não reage, apenas arregala os olhos, mas logo em seguida os fecha lentamente. Branco se vira para Noy, que parece dormir tranquilamente. Ele repete o processo, Noy tenta resistir, mas é em vão. Branco sente um prazer inédito em tirar a vida deles e logo se esconde no canto do quarto. Ele dá um grito e fica em silêncio. Logo seu pai entra no quarto e o desespero toma conta de sua face. Branco se deliciava com a situação, pois ele tinha tirado as únicas coisas importantes para o Sr. Gale. Enquanto ele estava agachado em prantos, Branco se aproxima e dá uma punhalada em suas costas, Sr. Gale grita de dor e se arrasta até o canto da parede. Ele se vira e o terror lhe domina por completo, Branco estava rindo. “Agora eu vou realmente te tirar TUDO!”.
Sem família e destino, vagando por aí, Branco aprendeu a se virar. Sua primeira lição foi a de andar sempre coberto, pois sua pele e cabelos sem cor causavam estranheza nas pessoas. Mais uma vez o olhar raivoso e julgador das pessoas o perfurava, sem que ele tivesse feito nada. E assim ele decidiu que dedicaria sua vida a tirar coisas das pessoas, que nunca lhe deram nada. E surgiu assim a lenda do Branco, “Para aqueles que avistam o homem Branco, preparem-se, pois você perderá algo de muito valor. E em último caso, a vida”.